Adesão ao tratamento medicamentoso da hipertensão arterial sistêmica em idosos na atenção primária à saúde
DOI:
https://doi.org/10.5281/zenodo.17886088Palavras-chave:
Tratamento medicamentoso, Hipertensão Arterial Sistêmica, Atenção Primária à Saúde, IdososResumo
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma das doenças crônicas não transmissíveis mais prevalentes no mundo, afetando aproximadamente 1,13 bilhão de pessoas em 2015, com um aumento expressivo nos últimos 40 anos, especialmente em países de baixa e média renda. No Brasil, a HAS afeta cerca de 32,3% da população adulta e até 71,7% dos indivíduos com mais de 70 anos, sendo responsável por 45% das mortes cardíacas e 51% dos óbitos por doenças cerebrovasculares. O controle inadequado da HAS está diretamente associado a um maior risco de complicações como acidente vascular cerebral, infarto agudo do miocárdio e insuficiência renal crônica. A atenção primária à saúde (APS) tem um papel fundamental no reconhecimento, tratamento e acompanhamento desses pacientes, mas enfrenta desafios quanto à adesão ao tratamento medicamentoso. O presente estudo tem como objetivo analisar as múltiplas dimensões que envolvem a adesão ao tratamento medicamentoso da HAS em idosos na APS, considerando os fatores que influenciam essa adesão e as estratégias adotadas para promovê-la. Foi realizada uma revisão narrativa da literatura com busca sistemática nas bases de dados LILACS, SciELO, MEDLINE/PubMed e Google Acadêmico. Foram utilizados os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e Medical Subject Headings (MeSH), incluindo "Idoso", "Hipertensão Arterial Sistêmica", "Adesão ao Tratamento" e "Atenção Primária à Saúde", combinados com os operadores booleanos AND e OR. A pesquisa na literatura evidenciou que a baixa adesão ao tratamento medicamentoso da HAS em idosos varia entre 30% e 50%, conforme diferentes pesquisas realizadas no Brasil e no mundo. Um levantamento realizado em uma Estratégia de Saúde da Família (ESF) de Cuiabá, MT, revelou que nenhum dos 54 usuários estudados aderiu completamente ao tratamento proposto; 50% aderiram parcialmente e 50% não aderiram de forma alguma. No contexto internacional, pesquisas indicam que até 35% dos pacientes hipertensos interrompem o uso da medicação dentro do primeiro ano de tratamento. Os principais fatores que impactam a adesão ao tratamento são divididos em cinco dimensões: (1) fatores relacionados ao paciente, incluindo nível de escolaridade, faixa etária, suporte familiar e percepção sobre a gravidade da doença; (2) fatores relacionados ao sistema de saúde, como dificuldade de acesso a consultas e medicamentos, baixa qualidade da relação médico-paciente e tempo reduzido de atendimento; (3) fatores socioeconômicos, como baixa renda e custo elevado dos medicamentos; (4) fatores relacionados ao tratamento, como complexidade dos esquemas terapêuticos e efeitos adversos das medicações; e (5) fatores ligados à doença, incluindo a ausência de sintomas perceptíveis em fases iniciais da HAS, o que reduz a percepção de risco pelo paciente. Para melhorar a adesão ao tratamento, diversas estratégias são recomendadas, incluindo: (1) atuação de farmacêuticos clínicos na APS, fornecendo acompanhamento e suporte educacional aos pacientes; (2) fortalecimento da atuação dos agentes comunitários de saúde, promovendo visitas domiciliares para monitoramento contínuo; (3) uso de tecnologias como aplicativos móveis, lembretes por SMS e telemonitoramento para reforçar o uso regular da medicação; e (4) ampliação do acesso a medicamentos gratuitos ou subsidiados, conforme o Programa Farmácia Popular, que já beneficiou milhões de hipertensos no Brasil desde sua implementação em 2004.
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