Raiva Humana no Brasil: análise epidemiológica de casos associados a animais silvestres nos últimos dez anos a partir de dados do DATASUS
DOI:
https://doi.org/10.5281/zenodo.17235597Palavras-chave:
Raiva, Epidemiologia, Animais silvestres, Saúde pública, Vigilância epidemiológicaResumo
A raiva continua sendo uma das zoonoses mais letais e de maior relevância em saúde pública, sobretudo em países da América Latina, onde a interação entre seres humanos, animais domésticos e fauna silvestre favorece a persistência da doença. Este estudo teve como objetivo analisar os casos de raiva humana transmitida por animais silvestres no Brasil nos últimos dez anos, utilizando dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN/DATASUS). A metodologia consistiu em um estudo observacional, descritivo e retrospectivo, contemplando a série histórica de registros de 2013 a 2023. Os resultados demonstraram que, apesar da redução dos casos de raiva urbana decorrente de programas de vacinação em cães e gatos, os episódios associados a morcegos hematófagos e não hematófagos permanecem recorrentes em determinadas regiões, sobretudo na Amazônia Legal e em áreas de vulnerabilidade social. A análise reforça que a ausência de casos em alguns estados pode estar associada à subnotificação e não necessariamente à erradicação da doença. A discussão, fundamentada em literatura científica nacional e internacional, evidencia a importância da vigilância epidemiológica ativa, da integração entre saúde humana, animal e ambiental (abordagem One Health) e da garantia de insumos profiláticos, como vacinas e soros antirrábicos, especialmente em localidades remotas. Conclui-se que a raiva transmitida por animais silvestres no Brasil configura um desafio persistente e de caráter multifatorial, demandando estratégias contínuas e interdisciplinares para avançar rumo à meta de eliminação proposta pela Organização Mundial da Saúde até 2030.
Referências
Aguiar, T., et al. (2018). Rabies in hematophagous bats in Brazil: ecological and epidemiological aspects. PLoS Neglected Tropical Diseases, 12(3), e0006421.
Batista, H. B. C. R., et al. (2011). Rabies virus in insectivorous bats in Brazil. Journal of Wildlife Diseases, 47(4), 939–944.
Belotto, A., et al. (2005). Overview of rabies in the Americas. Virus Research, 111(1), 5–12.
Brasil. Ministério da Saúde. (2020). Raiva: vigilância epidemiológica e profilaxia. Brasília: MS.
Delpietro, H., et al. (2017). Ecology of vampire bats and transmission of rabies in South America. Virus Research, 232, 110–118.
Drumond Jr., M., et al. (2007). Utilização de sistemas de informação em saúde no Brasil: limitações e possibilidades. Cadernos de Saúde Pública, 23(5), 1205–1216.
Favoretto, S. R., et al. (2013). Rabies in the Americas: new challenges for an old disease. PLoS Neglected Tropical Diseases, 7(11), e2350.
Freuling, C. M., et al. (2011). The elimination of fox rabies from Europe: determinants of success and lessons for the future. Philosophical Transactions of the Royal Society B, 368(1623), 20120142.
Gilbert, A. T., et al. (2012). Evidence for rabies spillover into nonreservoir species in North America. American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, 87(5), 902–906.
Gomes, M. N., et al. (2011). Rabies in the Amazon: challenges for control and prevention. Revista Pan-Amazônica de Saúde, 2(1), 11–18.
Hampson, K., et al. (2015). Estimating the global burden of endemic canine rabies. PLoS Neglected Tropical Diseases, 9(4), e0003709.
Jackson, A. C. (2013). Current and future approaches to the therapy of human rabies. Antiviral Research, 99(1), 61–67.
Johnson, N., et al. (2014). Rabies emergence among bats in the Americas. Vector-Borne and Zoonotic Diseases, 14(5), 315–323.
Kotait, I., et al. (2019). The role of bats in the epidemiology of rabies in Brazil. OIE Scientific and Technical Review, 38(2), 499–511.
Kuzmin, I. V., et al. (2011). Molecular inferences suggest multiple host shifts of rabies viruses among bats. Journal of Virology, 85(14), 7496–7509.
Lima, C. R. A., et al. (2009). Uso de dados de sistemas de informação em saúde no Brasil: revisão de literatura. Revista de Saúde Pública, 43(4), 831–839.
Mayen, F. (2003). Haematophagous bats in Brazil, their role in rabies transmission, impact on public health, livestock industry and alternatives to an indiscriminate reduction of bat population. Journal of Veterinary Medicine, 50(10), 469–472.
Medronho, R. A., et al. (2009). Epidemiologia. 2. ed. São Paulo: Atheneu.
Oliveira, R. N., et al. (2012). Human rabies transmitted by bats in the Amazon region: epidemiological and clinical aspects. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 45(6), 713–719.
Pan American Health Organization (PAHO). (2019). Rabies: Epidemiological alerts and updates. Washington: PAHO.
PAHO. Pan American Health Organization. (2019). Rabies in the Americas: epidemiological surveillance and control strategies. Washington: PAHO.
Pereira, M. G. (2014). Epidemiologia: teoria e prática. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.
Ribas, L. G. S., et al. (2018). Rabies surveillance and prophylaxis: challenges in remote areas of Brazil. Zoonoses and Public Health, 65(7), 763–772.
Rocha, S. M., et al. (2017). Rabies epidemiology in Brazil. Revista de Saúde Pública, 51, 66.
Rupprecht, C. E., Hanlon, C. A., & Hemachudha, T. (2002). Rabies re-examined. The Lancet Infectious Diseases, 2(6), 327–343.
Scheffer, K. C., et al. (2019). Emerging epidemiology of bat-associated rabies in Brazil. Epidemiology and Infection, 147, e295.
Schneider, M. C., et al. (2009). Rabies transmitted by vampire bats to humans: an emerging zoonotic disease in Latin America? Revista Panamericana de Salud Pública, 25(3), 260–269.
Schneider, M. C., et al. (2011). Rabies in Brazil, 2000–2010: From canine to bat-transmitted human rabies. Epidemiology and Infection, 140(4), 646–657.
Streicker, D. G., et al. (2012). Ecological and anthropogenic drivers of rabies exposure in vampire bats: implications for transmission and control. Proceedings of the Royal Society B, 279(1742), 3384–3392.
Velasco-Villa, A., et al. (2017). Successful strategies implemented towards the elimination of canine rabies in the Western Hemisphere. Antiviral Research, 143, 1–12.
Victora, C. G., et al. (2011). Como elaborar projetos de pesquisa epidemiológica. Porto Alegre: Artmed.
Vigilato, M. A. N., et al. (2017). Progress towards eliminating canine rabies: policies and perspectives from Latin America and the Caribbean. Philosophical Transactions of the Royal Society B, 372(1719), 20160143.
Wada, M. Y., et al. (2011). Epidemiological trends of human rabies in Brazil: 1980–2010. Epidemiology and Infection, 139(4), 529–537.
World Health Organization (WHO). (2018). WHO Expert Consultation on Rabies: third report. Geneva: WHO.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Journal of Social Issues and Health Sciences (JSIHS)

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
